O escoramento de valas é um serviço frequentemente utilizado em obras de saneamento, drenagem, construção de redes de gás e oleodutos, para evitar desmoronamentos e manter estáveis os taludes das escavações. O objetivo é garantir condições para a realização das atividades no local e, principalmente, a segurança dos trabalhadores.
Na última década, as tecnologias disponíveis para a contenção de valas evoluíram na busca de alternativas mais seguras e versáteis. Soluções tradicionais com pranchas de madeira perderam espaço para soluções de escoramento mais racionais, que proporcionam menores limitações operacionais e agregam maior velocidade de execução.
“De forma geral, as contenções de vala com elementos de madeira demandam uso de matéria-prima inapropriada sob o ponto de vista ambiental. Além disso, são mais suscetíveis a acidentes de trabalho e a limitações de utilização quando, por exemplo, a cava está sob o nível do lençol freático”, comenta o engenheiro Marcelo Felix, da Keller Engenharia, reforçando que as tecnologias pré-fabricadas procuram principalmente maximizar a mecanização dos serviços.
Independentemente da solução técnica aplicada, a decisão pela necessidade ou não de escoramento deve levar em conta estudos geotécnicos, em função da estabilidade do solo e da profundidade da vala. Quando necessários, os escoramentos podem ser contínuos (geralmente indicado em solos arenosos e sem coesão) ou descontínuos (indicado em solos coesos, geralmente em cota superior ao nível do lençol freático). Mas, de acordo com a Portaria no 18 do Ministério do Trabalho, a contenção é obrigatória para valas com profundidade superior a 1,25 m.
Qualquer que seja o procedimento utilizado é preciso levar em consideração a pressão exercida pelo terreno. Os painéis instalados devem ser capazes de resistir a um empuxo mínimo calculado pelo projetista.
Blindagem de valas
Entre as técnicas de escoramento de valas mais recomendadas na atualidade estão a contenção de cava com escoramento com pranchas metálicas e a utilização de módulos pré-fabricados, a chamada blindagem de valas. Ambas proporcionam índices elevados de produtividade, mas diferem bastante na forma de execução. O escoramento com pranchas metálicas acontece com perfis de aço laminado com encaixes longitudinais, que permitem construir paredes contínuas pela justaposição das peças que vão sendo encaixadas e cravadas sucessivamente. Já a blindagem é feita com módulos constituídos por duas paredes metálicas conectadas entre si por estroncas, que mantêm o sistema rígido, garantindo a continuidade da escavação e a proteção dos profissionais que acessam a vala.
A blindagem de valas é um procedimento de escoramento de rápida execução e alta precisão, já que os módulos são pré-fabricados e simples de serem montados. A blindagem pode ser usada tanto como reforço da vala em situações de reparo, quanto em escavações novas. As paredes dos módulos são fornecidas, em geral, em tamanhos padronizados, e o conjunto pode ser travado por estroncas estáticas ou ajustáveis, com tamanho de acordo com o diâmetro do tubo a ser introduzido na vala. “O escoramento blindado de valas tem se demonstrado eficiente, pois além de ser de fácil execução e reaproveitamento, proporciona grande segurança aos trabalhadores, bem como produtividade”, afirma o engenheiro Luiz Antônio Naresi Júnior, especialista em fundações pesadas e em geotecnia.
Aplicáveis para valas com até 4,5 m de profundidade, os módulos podem apresentar comprimentos variando de 2 m a 6 m, alturas de 1,5 m a 3,5 m e pesar de 1.200 kg a 4.800 kg. Para atender à profundidade de valas superiores, podem ser empregados módulos empilhados afixados sobre a blindagem padrão. A montagem da blindagem exige equipamentos operacionais, como retroescavadeira 4 x 4 ou escavadeira hidráulica.
Os métodos para o escoramento de valas diferem muito também no quesito produtividade – variável difícil de ser mensurada em números absolutos, dado que depende das condições de trabalho de cada operação, como solo, profundidade, nível de água etc. Como referência, uma vala escorada com pranchas de madeira, método rudimentar, permite obter produtividades da ordem de, no máximo, 10 m por dia por equipe. De acordo com o engenheiro Marcelo Felix, para valas contidas com estacas-pranchas metálicas, a produtividade média é de aproximadamente 20 m diários por equipe. “Para a blindagem de valas com módulos pré-fabricados, a produtividade também dependerá do número de módulos disponíveis, mas pode-se considerar uma produtividade média de 15 m por dia/equipe”, informa o engenheiro da Keller.
BLINDAGEM DE VALAS
Saiba quais os componentes e o funcionamento
1 – Paredes As paredes da blindagem são compostas por chapas de alumínio ou aço. Normalmente são fornecidas em tamanhos pré-definidos e costumam variar entre 1,5 m e 3 m (altura) e entre 5 m e 7 m (comprimento).
2 – Estroncas para travamento As estroncas são fixadas nas paredes por meio de pinos, grampos ou encaixes. As estroncas estáticas não permitem a mudança da largura do escoramento. Já as pneumáticas podem ser ajustadas caso a caso, modificando a largura do módulo.
3 – Montagem Após a montagem do conjunto no próprio canteiro de obra, segue-se a blindagem concomitante à escavação.
3.1 – Posicionamento – Inicialmente é feita uma escavação rasa, que pode variar em Estronca pneumática Estronca estática profundidade conforme as condições do solo (não costuma ultrapassar 50 cm). O módulo é, então, posicionado nessa escavação.
3.2 – Encaixe da blindagem – A escavadeira aprofunda a vala, operando por dentro da própria blindagem e retirando a terra até se atingir a profundidade prevista no projeto. Caso o solo seja muito firme e o módulo de blindagem não esteja descendo por gravidade, força-se a descida das paredes da blindagem com as costas da caçamba da escavadeira. Eventualmente, alguns projetos mais profundos de escavação podem exigir a inserção de outro módulo de blindagem acima do módulo inserido inicialmente – nesses casos, eles devem ser travados entre si.
4 – Prosseguimento da escavação Após as devidas operações na vala (como o assentamento de uma tubulação, por exemplo), o módulo pode ser imediatamente retirado.
Cuidados na contratação
Sobretudo no caso da blindagem de valas, que envolve locação, é necessário que o contratante procure fornecedores capazes de garantir a oferta de equipamentos em bom estado de uso e conservação. “Por se tratar de um sistema de contenção provisório em que o ativo principal deve ser restituído ao locador nas mesmas condições de sua locação, há de se provisionar um custo relativo para as reparações dos módulos após a sua devolução”, alerta Marcelo Felix, ressaltando que estes custos podem ser representativos e devem ser contemplados como encargo do contratante.
“Também é importante contar com uma consultoria especializada a fim de dimensionar adequadamente a blindagem, a espessura da parede, a profundidade da obra e a geometria das peças”, acrescenta Naresi, que recomenda aos contratantes, ainda, exigir um histórico de obras já realizadas pelas empresas a serem contratadas. Uma norma importante e que deve constar em editais de contratação é a ABNT NBR 12.266 – Projeto e Execução de Valas para Assentamento de Tubulação de Água Esgoto ou Drenagem Urbana – Procedimento.
Vale ressaltar que falhas no escoramento das valas podem levar a prejuízos enormes e a atrasos no cronograma da obra, além de colocar em risco a vida de pessoas. Daí a importância de que a contratação e a fiscalização dessa atividade sejam criteriosas de modo a garantir que materiais e os procedimentos adotados sigam à risca o especificado em projeto.
Entre outros itens, a fiscalização deve observar se os materiais empregados na construção da contenção estão em perfeito estado e se, no momento da montagem, as estroncas foram colocadas rigorosamente perpendiculares ao plano do escoramento.
Fonte: http://infraestruturaurbana.pini.com.br/solucoes-tecnicas/45/artigo332706-1.aspx
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